"A grande lição da pandemia é a fragilidade humana"

(Jaime Nogueira Pinto)

 
Na noite de ontem, 13 de abril, Jaime Nogueira Pinto foi o orador convidado da sessão mensal organizada pelo Núcleo Diocesano de Lisboa da AMCP.
 
O investigador e pensador teceu a sua reflexão sobre o tema “Contágios - 2500 anos de pestes”, título da obra que publicou em agosto de 2020, pela Dom Quixote, e onde percorreu, usando as mais diversas fontes históricas e documentais, uma viagem marcada por sofrimento, carestia, doença e morte.
 
De comum ao longo da história da humanidade nos momentos de pestes, epidemias e pandemias estão os isolamentos, os confinamentos, e também o medo. “Podemos ter fé ou não ter fé, mas todos temos medo”, disse.
 
Outra caraterística comum tem que ver com as interrogações e incertezas quanto ao futuro, num momento disruptivo como o de uma peste. “Temos os nossos problemas, que são os que preocupam os grandes pensadores desde os séculos IV ou V antes de Cristo”, referiu sublinhando as tensões sempre existentes entre a aceitação e a recusa das restrições impostas. Todo o modo, disse, “qualquer epidemia está sempre relacionada com comportamentos, quer na causa quer na prevenção” e é sempre procurada “a cura, o tratamento”.
 
Já a leitura causal é agora entendida de outra forma; “as sociedades estão menos religiosas (…), aquilo que dantes era tratado como se fosse um castigo [divino] (…), não é [agora entendido como] ofensa a Deus, mas à natureza”.
 
No início do século, “a pneumónica deixou muitas marcas em Portugal”; teve três vagas: “a primeira na primavera de 1918, outra no outono e uma outra em 1919”.
 
“Estamos outra vez numa fase de pensamento distópico”, sublinhou Jaime Nogueira Pinto. “Estamos perante uma sociedade com uma forte componente da ciência e da técnica, da qual esperamos mais do que o que havíamos de esperar”, afirmou ilustrando com as contradições e diferentes análises por parte de pessoas com igual competência e saber.
 
Para os crentes, disse, “é importante tirar algumas lições de bem” destes tempos. “O bem no meio do mal impressiona-me muito mais do que o bem no meio do bem”, comentou.
 
As grandes lições das pandemias são “a fragilidade da natureza humana” e que “haverá sempre mistério, nunca vamos ter a certeza de tudo”. “A pandemia é também uma lição da força humana, porque acontecimentos excecionais, dão lugar a comportamentos excecionais”.
 
A sessão online contou 134 participantes.
 
Lisboa, 14 de abril de 2021