Este mês de maio o nosso convidado foi o médico Rui Portugal, associado da AMCP desde 2004. A conversa fez-se desta vez mais a propósito da abertura dos espaços católicos de culto à presença física de fiéis, agendada para o próximo fim-de-semana.

Sob a coordenação da AMCP, Rui Portugal integrou o grupo de três formadores do webinar realizado 22 de maio, entre as 18:00 e as 19:00, em que participaram 70 sacerdotes de Lisboa, incluindo o bispo auxiliar D. Américo Aguiar e o núncio apostólico D. Ivo Scapolo. Os dois outros formadores foram a restauradora Maria Lebre de Freitas e a reitora dos Colégios de São Tomás e Ramalhão, Isabel Almeida e Brito.

 

Rui Gentil de Portugal e Vasconcelos Fernandes é casado com uma colega médica, Rita, e ambos são pais de cinco filhos. Viveram em Londres e em Chapel Hill, nos EUA, onde o médico estudou.

Natural de Espinho, onde nasceu fará no próximo mês 57 anos, Rui Portugal já trabalhou em vários organismos de Saúde. Atualmente tem responsabilidade na formação dos novos especialistas de Saúde Pública, a sua especialidade, em LVT. Exerce ainda USP do ACeS - Lisboa Central / ARSLVT / FMUL.

 

“A alegria da celebração presencial rapidamente se irá sobrepor a
estas pequenas (mas importantes) questões práticas.”

Rui Portugal

 

Na formação recentemente realizada aos sacerdotes de Lisboa, quais as principais preocupações que lhes sentiu e lhe transmitiram?

Os nossos sacerdotes são pessoas que querem o bem das suas comunidades e por isso têm duas grandes preocupações ao restabelecer as celebrações eucarísticas e outras.

Uma é mais uma alegria do que uma preocupação - abrir as Igrejas de forma a que possamos ter as celebrações comunitárias diárias, em que possamos estar fisicamente com Cristo, um valor extraordinário para um Católico.

A outra está relacionada com a segurança dos participantes nas celebrações. Certamente que cada sacerdote, com o conhecimento que têm da sua comunidade e das suas igrejas, juntamente com os conselhos paroquiais, já desenharam soluções para que possamos ter as celebrações em segurança.

 

 

Quais as situações de maiores cuidados? 

Não podemos esquecer que temos dois grupos em que devemos ter particular atenção: as pessoas mais idosas e com doenças crónicas e as crianças. Os primeiros visto que é obrigação da comunidade proteger de forma mais acentuada os mais vulneráveis à doença. Lembremos que a taxa de fatalidade para pessoas com mais de 80 anos em Portugal é quase 20% - um numero enorme.

Em relação às crianças a preocupação é de outro nível. A sua permanente curiosidade leva-as a tentar explorar pessoas e coisas - uma Igreja é um mundo - e por isso os seus movimentos mais ou menos aleatorios aumentam o risco de transmissão da doença que sabemos é sobretudo transmitida pessoa a pessoa.  

 

 
Algumas questões logísticas e normas, aliás de acordo com as orientações da CEP, serão mais difíceis de implementar do que outras, por parte das comunidades, paróquias e dioceses? 


Os melhores espaços para celebrações neste período de mitigação da doença são ao ar livre... As paróquias e comunidades que tiverem espaço ao ar livre poderão aproveitar esse mesmo espaço para as celebrações. A celebração ao ar livre diminui substancialmente o risco de transmissibilidade de doença.

Para reduzir o risco teremos de ter circuitos de um só sentido, muito bem delineados e que se cumpram. Será esta a parte mais difícil em cada celebração - a entrada, a saída e a comunhão. Estes três momentos devem estar bem organizados e até treinados, de referência, quase que obrigando a que em cada celebração haja um grupo de leigos que possa gerir todos os movimentos. Na entrada sentar de frente para trás, todos os lados em simultâneo. À saída serão convidados a sair os que estão na última fila em primeiro lugar e assim sucessivamente. Tudo garantindo um só sentido - não deve haver cruzamento de pessoas.

 


E quando os templos são pequenos e os espaços mais confinados? Há outras opções?

A melhor alternativa poderá ser que a saída seja realizada pela zona da sacristia ou outras dependências e, assim, saem primeiro os das primeiras filas junto ao altar-mor, sem cruzamentos.  Na comunhão, teremos de ter uma organização que permita um só sentido, apenas possível com um grupo de voluntários a ir convidando, por ordem, cada uma das filas. Será recomendado que altares e imagens mais veneradas fiquem inacessíveis durante este período de combate à doença.   

 

 

A nós, os fiéis, o que custará mais, o que será mais difícil cumprir e aceitar?  

Como convencer as pessoas com maiores debilidades a frequentarem missas em dias alternativos? Penso ser o mais difícil.
Como iremos garantir a presença de famílias com filhos pequenos sem que possa agravar o risco de transmissão de doença? Estarem quietinhos durante toda a
celebração, desde que entram até que saem!

Mas a alegria da celebração presencial rapidamente se irá sobrepor a estas pequenas – mas importantes! – questões práticas. O Espírito Santo iluminará os nossos bispos, os nossos párocos e toda a comunidade para que possamos rapidamente ultrapassar esta pandemia. O mal é que sabemos muito pouco sobre este vírus e vamos tomando medidas, muitas vezes sem um suporte cientifico robusto. Mas a capacidade de discernir com o principio da precaução e o bom senso nos governará... 

 


Que mensagem final lhe parece importante transmitir?

Já agora, o medo tem sido uma enorme constante no comportamento das nossas comunidades. Medo que aparenta contornos de uma outra epidemia,  esse medo não pode inibir a procura de vacinação – estamos em risco de ter uma epidemia de sarampo que poderá matar mais e os mais novos no próximo ano, por exemplo – e da procura de cuidados de saúde para os que têm doença crónica. Poderemos ter níveis de cegueira, insuficiência renal e amputações há muito tempo não vistos por descontrolo da Diabetes, por exemplo. 

Uma sugestão final: façamos exercício!