Padres partilham medos, receios e alegria

no regresso às celebrações comunitárias presenciais

 

Convidámos dois dos setenta sacerdotes participantes no webinar orientado pela AMCP dirigido aos padres do Patriarcado de Lisboa a partilharem connosco as suas expetativas em relação à reabertura, a partir de amanhã, 30 de maio de 2020, dos espaços de culto à presença de fiéis para as celebrações comunitárias.

 

Tiago Fonseca

padre Tiago

Um deles foi o padre Tiago Fonseca, vigário-paroquial da Paróquia da Ericeira. 

“Estamos entusiasmados com o regresso das celebrações e mesmo a oportunidade de celebrar Missa campal ao largo da igreja permitirá evangelizar e mostrar a Igreja viva!”, testemunha o jovem sacerdote.

“Na nossa paróquia da Ericeira, estabelecemos uma equipa chamada Igreja Segura Ericeira. Esta equipa teve a missão de preparar a igreja para o regresso das celebrações comunitárias em segurança. Implementámos as medidas de distanciamento, arrumando os bancos numa nova disposição. À entrada da igreja, foram colocados dispensadores de gel, fabricados aqui na paróquia por um dos membros da equipa. Dentro da igreja temos sempre algum voluntário presente e a igreja assim pode estar aberta em permanência”, explica o sacerdote.

A equipa Igreja Segura Ericeira produziu um filme, já divulgado nas redes sociais, “para esclarecer os cuidados a ter à entrada da igreja e durante a celebração da Missa e no acesso à Sagrada Comunhão”.

Em termos concretos, explica o sacerdote, “em cada Missa haverá uma equipa de quatro voluntários responsáveis pelo acolhimento. Iremos celebrar Missa campal ao Sábado às 19h e ao Domingo às 19h. Durante a semana às 19h e ao Domingo de manhã (às 9h e 12h) a missa é celebrada dentro da igreja de S. Pedro”.

A participação no webinar coordenado pela AMCP revelou-se útil, o padre Tiago Fonseca foi um dos que fez chegar antecipadamente à organização algumas questões que gostaria de ver respondidas.

Em jeito de balanço final, o padre Tiago Fonseca refere: “Estive presente no encontro via Zoom e foi muito importante para esclarecer dúvidas e questões práticas. Ao longo destas semanas de quarentena e de desconfinamento, contactei regularmente os membros da AMCP que prontamente me elucidaram acerca dos cuidados a seguir para em segurança administrar os Sacramentos. Por tudo isto, quero agradecer a ajuda preciosa da Associação dos Médicos Católicos e encorajar-vos a que continuem assim ao serviço de Deus e da Igreja. Obrigado!”

 

Monsenhor Duarte da Cunha

p. duarte 

Quisemos também conhecer a expetativas do pároco de Santa Joana Princesa, monsenhor Duarte da Cunha.

“Creio que a maior alegria que um padre pode ter seja a de poder oferecer aos fiéis os sacramentos, especialmente a Eucaristia e a Confissão. Por muito intenso que seja, e em muitos casos terá sido, para algumas pessoas e famílias a missa seguida via internet ou pela televisão, o sacramento é algo de outra natureza que só se recebe estando presente. Ainda que o valor da Eucaristia celebrada mesmo sem a presença dos fiéis seja infinita, para que se torne alimento de cada um é indispensável estar presente. Tudo o mais pode, e esperamos que tenha conseguido, preparar, abrindo o coração, para as graças sacramentais. Creio que esta alegria é dos pastores porque é de todos. Claro que também me alegro por ver as pessoas e sobretudo se estiverem todos bem. E, ainda, ficarei contente de poder encontrar-me com as pessoas que estão a sofrer, ou nestes tempos tiveram grande problemas, e poder assim dar uma palavra de conforto, que testemunhe o amor de Jesus Cristo e a proximidade da Igreja”, sublinha mons. Duarte da Cunha.

Vivem-se tempos novos, certamente de adaptações, e, como é expectável, de alguns receios.

“Os maiores medos ou receios são de que haja gente descuidada e que, sem responsabilidade, tendo sintomas da doença sem o dizer, apareça e possa contagiar os outros”.

A Paróquia de Santa Joana Princesa tem “tudo pronto”. “E deu muito trabalho prepararmos a Igreja com todos os requisitos. Creio que as celebrações têm tudo para acontecer em segurança, mas precisamos da colaboração de todos”.

Um outro receio é apontado: “Não nego, no entanto, que também sinto receio de que estes meses distantes da vida sacramental e comunitária possam ter arrefecido o fervor da fé de muitos, e que a solidão ou o estar fechado em casa ligado a computadores possa ter distraído a pessoa da sua relação com Deus. Como esta relação passa pela vida da Igreja, sem uma participação presencial, ainda que em muitos até possa ter aumentado a intensidade da relação com Deus através do desejo de celebrar ao vivo, noutros pode ter arrefecido e não sei se todos vão voltar”.

A missão e serviço de mons. Duarte da Cunha passa também pela pastoral familiar do Patriarcado.

“Em relação às famílias, devemos dizer que estas são muito diversas umas das outras, pelo que também as experiências são múltiplas. Creio que podemos, no entanto dizer, que a família, mais uma vez, demostrou ser o grande recurso, a grande riqueza que ajuda de modo essencial a viver momentos complicados.
Os maiores problemas aconteceram por causa dos efeitos directos da Covid 19, como sejam a doença e até a morte de entes queridos; mas também pelos efeitos indirectos, como sejam as dificuldades de tratar de outras doenças, a perda do emprego ou a crise económica”.

Dos relatos que chegam ao sacerdote, o combate à solidão é um dos maiores desafios: “Há ainda a sublinhar todos os problemas de solidão que, sobretudo, os idosos sentiram e sentem com grande intensidade. Agora é tempo para voltarmos a evidenciar que é preciso cuidar das famílias.”

 

29 de maio de 2020 

 

Créditos das fotografias:

do padre Tiago Fonseca - ericeiramag.pt

de mons. Duarte da Cunha - DR